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Voando em um Mundo de Ideias e Superando Estereótipos

Está é a segunda publicação de uma série de postagens com convidadas especiais! Todas também têm TDAH e vão compartilhar com vocês um pouquinho sobre o dia a dia delas, como lidam com o transtorno e vão dar dicas preciosas! Fiquem agora com o relato da Nathalia Brunhani Aproveitem! -- Geisa


Nathalia Brunhani


Diagnosticada tardiamente, entre meus 18-19 anos, muito das lembranças (não tão positivas) referentes ao meu comportamento e “personalidade” na infância vieram à tona e eu passei a ver sentido em muitas situações onde eu me senti impotente, frustrada ou até mesmo “desajustada” com o diagnóstico.


Crescer em um lar com irmãos que se auto-denominavam maníacos por limpeza, sendo uma criança neuro diversa, me fazia sentir o patinho feio da família, minha mãe e meus irmãos faziam questão de usar o precioso tempo deles em organizar, arrumar e limpar, e por mais satisfatório que fosse estar naquele meio limpo e organizado, eu não conseguia encontrar dentro de mim aquele combustível que eles tinham de sobra. Como eu também não tinha?! Eu poderia planejar um dia de faxina “no meu lado do quarto” que dividia com minha irmã, porém, não era tão simples assim, muitas vezes essa faxina começava comigo tirando tudo do lugar, contando que durante o processo eu teria ótimas ideias de reorganização, e não era bem o que acontecia, na verdade, eu me encontrava mais confusa e com os pensamentos mais acelerados ainda. No final desse dia era só mais um pra ouvir da minha mãe e dos meus irmãos o quão desorganizada e bagunceira eu era, ouvia “como podia eu conseguir viver naquele meio?”





(foto: freepik)


Me encontrava em mais um dia onde meus pensamentos acelerados me traziam muitos auto-questionamentos, um medo enorme de não pertencer e uma sensação de que merecia algum tipo de exílio. Sim, eu sei como tudo isso soa exagerado, mas se você não consegue se imaginar com esses sentimentos, muito provavelmente você não tem esse cérebro neuro diverso super acelerado e com reações e sentimentos tão intensos quando comparado a cérebros neuróticos. Mas será que alguém que você ama não se identificaria com tudo o que eu dividi ali acima? Estou aqui para compartilhar um pouco do que senti, pois entendi o quão importante é a disseminação de informação de qualidade, principalmente quando ela envolve tantas pessoas.


No caso do TDAH, quanto antes diagnosticado, mais cedo se inicia um processo de aprendizagem que fará toda a diferença pra vida tanto da pessoa com transtorno, quanto das pessoas que o rodeiam. Eu não posso mudar as coisas que no meu passado me trouxeram tantas inseguranças e creio que até mesmo poderia desencadear uma depressão bem precoce com síndrome do pânico.


Mas posso, hoje, colocar os pingos nos “is”, conectar situações ao transtorno e dar um sentido a eles e com isso aprender também a não me deixar afetar por certos pensamentos que pairam pela minha mente acelerada, pelas distrações frequentes que fazem me perder no meio de uma conversa super interessante com pessoas interessantes e entre outras situações onde quem possui, vai se encontrar. Quando você pode se preparar e preparar as pessoas a sua volta sobre o que esperar de você e o que “não esperar”(ficar imóvel numa cadeira ou prestar atenção em 100% da conversa por exemplo) a boa comunicação e a possibilidade do surgimento de novas amizades fluem maravilhosamente no meu ponto de vista.


Hoje posso dizer que sou menos insegura, que me preocupo menos com a crítica alheia e tenho uma autocrítica mais equilibrada. Atribuo tudo isso aos vários vídeos e textos de psicólogos e psiquiatras que assisti e li nesses mais de dez anos diagnosticada e também as experiências que troquei com amigos com o mesmo transtorno.


Infelizmente não posso mudar a forma que o sistema de saúde e educação funcionam, com o intuito de nos ajudarem com isso, mas o fácil acesso aos meios de comunicação tão facilitados nos dias de hoje, posso finalmente dizer que você aí tem o poder de se ajudar, de aprender mais sobre você mesmo(a), se adaptar e se organizar. Além de se conhecer e ajudar sua família e amigos a te conhecer melhor e a terem mais empatia com você. E como isso é libertador.



Compreendendo o TDAH: um olhar além dos estereótipos e estigmas


É muito importante entender que a grande diferença desse comportamento “incomum” é resultado de um cérebro que trabalha com a química de forma diferente. A ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção), afirma que: "estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o (Foto:freepik) resto do cérebro, [...] O que parece estar

alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios)”


Fica claro que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade está longe de ser teimosia, falta de educação, preguiça e entre outras coisas desagradáveis que infelizmente se ouve por aí por falta de informação.


A ABDA é somente uma das diversas fontes de informação a respeito do assunto que existem, e da mesma forma que estou aqui dividindo um pouco da minha vivência com o transtorno, espero que você possa ter aprendido algo sobre si mesmo e também que tenha compreendido a importância de disseminar informações, já que a falta gera muitos desconfortos desnecessários, principalmente no meio social, mas que poderiam ser evitados.


Vamos juntos transformar o preconceito e a desinformação em aprendizado e respeito à neurodiversidade!



Esse conteúdo faz parte do projeto DESAFIANDO A DISTRAÇÃO: PRODUÇÃO DE BLOG EDUCOMUNICATIVO SOBRE VIVÊNCIAS COM TDAH, idealizado pela Allana Gomes, estudante de Jornalismo na Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Universidade do Oeste Paulista.

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